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Guiné-Bissau – Nação africana forjada na Luta

“Há dez anos, nós éramos fulas, mandjacos, mandingas, balantas, pépeis e outros. Somos agora uma nação de guineenses” Amílcar Cabral(1)


Nunca um título fora tão feliz para designar a criação de uma nação. A concretude da identidade guineense emerge de uma luta política independentista armada, enquadrada num plano pan-africano e apoiada por correntes internacionalistas revolucionárias hors continente africano. Quando se coloca a questão “Nacionalismo Pan-africanista ou nacionalismo xenófobo ou, ainda, tribalismo”, os méritos da nossa própria História colectiva indicam-nos, de forma inequívoca, a escolha a fazer e o trilho a percorrer.

 

De uma consciência universal e aberta – que brotou da nossa luta de libertação nacional e,
concomitantemente, luta internacionalista – a actual luta pela sobrevivência na Guiné-Bissau, tende a impelir o retrocesso da consciência para uma visão do mundo estreita, identitária nacionalista-xenófoba e/ou tribalista-étnico-religiosa e regional, fundamentalista e, como tal, excludente. Aquela é a condição objectiva da propagação, entre o povo, do ideário tribalista: a “miséria material”. E esta condição, no contexto da divisão internacional do trabalho, será tanto maior – para além do desemprego – quanto menor for a presença do Estado (nacional) na Economia, nomeadamente no que tange à prestação de serviços de Saúde, Educação, Prestações sociais ou construção de Infra-
estruturas básicas várias.

A condição subjectiva premissa da emergência do tribalismo é a existência de partidos políticos
que, à dimensão nacional, pelo exercício do poder político e monopólio dos meios de comunicação, directa ou indirectamente, exacerbam aquela mentalidade e atraso de consciência política com o fito de chegarem e de permanecerem no poder ao serviço de classes com interesses antagónicos e conflituantes com os da maioria do povo guineense.

Ao mesmo tempo que o fenómeno “tribalismo” emerge, deve existir sapiência na sua crítica.
Primeiro – analisando de forma concreta o fenómeno concreto – a capacidade de distinguir entre as manifestações culturais positivas das nossas etnicidades do fenómeno “tribalismo”. E, na mesma senda do método de análise, é mister diferenciar a minoria que o estimula e que instrumentaliza a pertença étnica-religiosa-regional para os “seus” interesses económicos, da imensa maioria de elementos desse(s) grupo(s) étnico(s) – tanto mais quando, não raras vezes, esse(s) grupo(s) étnico(s) divide(m)-se em classes sociais distintas e castas bem vincadas(2).

Fazer esta dissociação é fundamental pela simples razão de que, por maior controlo de órgãos de soberania pelo lobby económico de base tribal, no marco de um sistema económico cimentado na desigualdade social – corolário da exploração económica e consequente opressão social – não existe saída da abjecta miséria para a imensa maioria pertencentes ao mesmo grupo étnico – bem como para os outros dos demais grupos étnicos – senão pela destruição deste mesmo sistema político, jurídico e económico. Como tal, é preciso conquistar politicamente essa “imensa maioria” para outro paradigma de “fazer Política” que não assente no tribalismo.

Neste momento da nossa História, a partir desta definição lata, o sujeito político “povo” é todo
aquele que acredita, organiza-se e luta, na medida das suas possibilidades, pela herança “de Unidade, Luta e Progresso” – divisas que permitiram forjar e proclamar há 50 anos esta nação africana denominada Guiné-Bissau. E como corolário lógico da premissa, este imperativo histórico, forçosamente, implica identificar e levar a cabo um combate sem tréguas contra as classes sociais e instituições contrárias àquelas divisas.


Unidade e Luta!

A manipulação étnica e religiosa, com a capa de solidariedade étnica ou religiosa, é falsa enquanto caminho libertador emancipatório civilizacional, não só para a Guiné-Bissau, mas para toda a África.

Que não se confunda, como Cabral dizia, “a identidade original, em que o biológico é a
determinante principal, com a identidade actual, na qual a determinante principal é o elemento sociológico(3)”.

Não deve ser critério a mera pertença familiar/étnica ou religião partilhada para a organização
política – no sentido estrito deste – dos indivíduos! A nossa condição objectiva definida pela classe social e a comunhão de interesses políticos e económicos concretos devem ser os termos do discernimento para definir a nossa unidade política. Tal pressupõe a luta por um mínimo grau de unidade no seio do povo guineense neste momento da sua História. E quem é o sujeito político “povo guineense” nesta etapa da História? “A definição de povo depende do nosso momento histórico que se vive na terra(4)” ou, mais assertivo: “(...) o povo define-se consoante a linha mestra da História dessa sociedade, consoante os interesses máximos da maioria dessa sociedade”.

(1)Cabral, Amílcar, A luta criou raízes, Praia, Fundação Amílcar Cabral, 2018, pg., 324.
(2)Cabral, Amílcar, Unidade e Luta – A arma da teoria, Unidade e Luta, volume1, pg.,101(Amílcar
Cabral alertou para estas especificidades na “Breve análise da estrutura social da Guiné
portuguesa”).
(3)Cabral, Amílcar, Unidade e Luta – A arma da teoria Volume I, Seara Nova, 1977, volume1, pg.,240.
(4)Cabral, Amílcar, Unidade e Luta – A arma da teoria Volume I, Seara Nova, 1977, volume 1, pg.,168.

Por por Yussef, do Movimento Africano de Trabalhadores e Estudantes – RGB
 16 de Outubro, 2023

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Santano Produções: A
jornada de dois
cineastas na elevação
do cinema PALOP

 

Em vésperas de uma semana que se avizinhava próspera para a editora de Henrique Sungo e Filipe Anjos, a Santano Produções, estivemos à conversa com os dois cineastas e produtores para descobrir como se sentem com a onda de reconhecimento pelo seu trabalho, que ressoa não só na Europa mas também no continente africano, mais nomeadamente em Angola. No dia 5 de Outubro a segunda exibição da série “Tray São” foi transmitida no Cine Palácio em Angola, o que coincide com o lançamento oficial do documentário “A Journey To Self Love” em Londres, no International Pan-African Film Festival.

Na mesma semana, para completar o hat-trick, esta jovem produtora marcou presença na gala da Unitel Angola Move, onde concorreu com três nomeações entre grandes nomes e produções nacionais angolanas, que aconteceu também no dia 7 de Outubro, no Hotel de Convenções de Talatona, em Luanda. Henrique e Filipe conheceram-se há anos atrás e juntos descobriram que partilhavam do mesmo objectivo, elevar a produção cinematográfica PALOP e levá-la além fronteiras; feito que têm conseguido atingir mesmo diante de obstáculos inesperados, mas que trazem destreza e muita experiência.

I. A vossa colaboração tem dado resultados impressionantes, incluindo a conquista de
prémios em festivais internacionais de cinema. Podem partilhar alguns detalhes sobre o
processo criativo que contribuiu para esse sucesso?

 

FA - Desde que começamos a trabalhar em parceria ou mesmo antes da Santano existir, conseguimos conectar e sincronizar desde o início, estávamos na mesma frequência por assim dizer, o que facilitou. Depois a partir daí conseguimos ver a visão um do outro, e temos em comum o querer fomentar projetos e situações que desenvolvam ou apoiem o desenvolvimento da comunidade africana dentro e fora de África. E como é óbvio, a vontade de trabalhar que temos constantemente. Se calhar apenas tivemos um fim de semana a cada dois meses, em que não estivemos a trabalhar ou a criar; acho que é um pouco por aí.

 

HS - Sim, esse processo criativo começa antes de nos juntarmos, eu já fazia algumas atividades e tu também, então aquilo simplesmente foi se conectando. Dentro da Santano a gente cria e idealizamos, conversamos bastante e não tem grandes segredos, os ingredientes já estavam connosco e foi só fazermos o delivery. É preciso estudar, investigar e começar a criar.

II. Podem falar-nos sobre o vosso último documentário “A Journey To Self Love” focado
numa história real, que aborda novamente um tópico já ilustrado por vocês na vossa primeira co-produção, que é a Imigração?

 

HS - É um documentário muito emocionante em que a Neusa é a personagem principal, fala da jornada de uma mulher que sofreu muito e saiu de Moçambique, emigrou para Portugal e depois veio para Inglaterra muito jovem. Foi difícil adaptar-se ao país e aos desafios, passou por muitas coisas tristes mas depois foi se consolidando, se tratando e ficando melhor. Resumindo, isso são problemas que temos vindo a ter na sociedade a nível de saúde mental, ela também não fugiu à regra, mas conseguiu superar, teve que pedir ajuda e hoje ela é um exemplo, dá seminários, é uma Coach e fala com a juventude. Portanto, trouxemos essa realidade nesse documentário e eu acho que muita gente passa por essas situações mas não fala; podem aprender com isso e expressar-se mais, portanto esse documentário também veio para ajudar.

 


FA - Olhando para o documentário mostra de onde a Neusa veio e para onde está a ir do ponto de vista da saúde mental, essa caminhada, esse caminho que ela vai fazendo, ou seja ela verdadeiramente se ama.

III. A segunda edição de exibição da série "Tray São" em Angola é mais uma conquista. Podem desenvolver um pouco mais sobre os temas explorados nesta série e o impacto que teve no público local?


FA - Os temas explorados é o que o nome da série em parte já diz, que é a traição. A situação de lidarmos com diferentes pessoas do ponto de vista amoroso e de amigos também, onde as personagens principais estão numa fase de transição muito jovem, para começar a entrar numa fase mais madura. É uma fase muito importante para muita gente, uma fase de grandes mudanças e é um pouco aí que toca a série; fala dos contextos amorosos, onde falta confiança e dedicação. Mas a primeira temporada foi só o início daquilo que ainda estamos para mostrar no que toca à série “Tray São”, que tem muito mais para dar e definitivamente vamos continuar a tocar nesse espaço de relações interpessoais, entre várias pessoas e aquilo que qualquer um de nós pode passar.


HS - Exatamente! O “Tray São” foi muito impactante em Angola, na primeira vez que exibimos tivemos casa cheia, as pessoas gostaram pelo conteúdo e pela qualidade, agora vamos exibir pela segunda vez também porque o público está a pedir. E acredito que as pessoas identificaram-se muito, a juventude de hoje tem muitos problemas em termos de relações e é algo que fala-se muito nas redes sociais. Então é necessário trazer esses exemplos para mostrar que é possível ter uma relação séria sem traição, com educação e respeito, isso é possível. Estamos também aqui para educar, não só vendo o lado negativo porque isto é uma ficção mas tem o lado positivo que é trazer ares frescos, dizendo à juventude que é possível ter só uma dama (risos em uníssono), que é possível respeitar a mulher e o homem. E somos africanos, faz parte da nossa cultura respeitar as pessoas e devemos sempre respeitar o outro.

IV. Com o vosso portfólio diversificado, que inclui projetos de curta-metragem e colaborações com outras produtoras em Londres e no circuito internacional, entidades e personalidades, como conseguem equilibrar a manutenção da vossa voz criativa única com as expectativas de diferentes clientes e projectos?


FA - Temos o objectivo de poder chegar a um espaço onde possamos desenvolver os nossos próprios projetos com liberdade. E a maneira como conseguimos fazer isso é conjugar, ir realizando os nossos trabalhos que começaram desde 2021 até agora onde a qualidade tem vindo a aumentar. Mas apesar dos vários filmes que temos vindo a desenvolver até agora, não temos como produzi-los a partir de financiamento próprio apenas, porque exigem muito mais valor monetário inicial, é mais nesse sentido. Depois nós apostamos nas colaborações que fazemos com outras pessoas, no conhecimento que adquirimos num ponto de vista também cultural, pois estamos em Londres mas em conexão com vários países na Europa, África, na Índia, Brasil. O facto de estarmos baseados aqui permite-nos fazer isso e aparecer com algo ligeiramente diferente.


HS - Eu acho que esse equilíbrio vem do tempo, da disponibilidade, força de vontade e tentar superar cada trabalho que a gente faz. O que fizemos há dois anos atrás não é igual ao do ano passado e não pode ser igual a este ano, é cada vez mais elevar e trazer algo fora de série. Assim como trazer pessoas novas para a equipa dentro das colaborações, temos vindo a ter muitas adições humanas que são muito boas, pessoas que têm conhecimento e que nos ajudam também.

V. Podem explicar de que forma a vossa origem multicultural influenciou o vosso trabalho e
a vossa abordagem à narrativa, especialmente tendo em conta os vossos laços tanto
com São Tomé & Príncipe como com Angola?


FA - Nasci e vivi em Portugal, num espaço que culturalmente lembra os nossos países em África e ao sair daí para Espanha quando tinha 6 anos, para um lugar onde não havia comunidade negra nenhuma, a não ser em casa literalmente e onde havia muita cultura cigana, típico cigano espanhol ou cultura da América do Sul. Toda essa experiência mais a cultura mainstream que maioritariamente vinha dos Estados Unidos, toda essa mistura tornou o meu caso aquilo que eu sou hoje, mais aquilo que eu fui vivendo, depois tendo vindo viver para o Reino Unido e juntando-se à curiosidade etcetera, influencia muito porque nós com aquilo que fazemos conseguimos falar com várias pessoas, para vários grupos de pessoas. Às vezes pode não ser tão específico dependendo do que é o projeto, mas por outro lado nós conseguimos ter muita empatia para com outras realidades e é até que nós exploramos, são histórias que nós podemos entrelaçar.  Depois como é óbvio, sendo um país como São Tomé e Príncipe, duas ilhas no meio do oceano com uma pequena população em comparação com os países é muito fácil e é-nos muito incutido puxar algo de outras culturas, somos menos então é normal. E é isso, usar esses pontos de uma maneira positiva para criar mais e de forma distinta.


HS - Outra coisa que ajuda muito nas nossas origens dentro desse multiculturalismo são os amigos. Nós temos famílias que vivem em outras partes do mundo, trocamos ideias, vamos visitá-los e a gente vê muita coisa e também somos pessoas muito viajadas e isso também contribuiu muito para os nossos projetos. Nós aqui estamos em Inglaterra e lidamos com comunidades de diferentes países africanos ou das Caraíbas ou europeus, então essa relação contribui bastante. É importante ouvir pessoas de outros países, pois quando apostamos em projetos e trabalhos novos, nós temos uma ideia de como eles são e assim conseguimos criar algo semelhante.

VI. Como uma produtora de audiovisual constituída por realizadores Indie, quais têm sido os maiores desafios e como pretendem continuar a projectar a vossa “Brand” daqui para a frente?


FA - O de sempre e eu acredito que mesmo para produtoras mais estabelecidas com uma raiz mais profunda, com equipas maiores ou com projetos mais internacionalizados, as dificuldades acabam por ser as mesmas que são os recursos a nível monetário, a nível de tempo e a nível de talento. Um dos recursos que nós antes tínhamos mais dificuldade era do ponto de vista técnico, melhoramos bastante e é algo que vai continuar a melhorar e são coisas que nós conseguimos investindo do nosso próprio bolso. Mas há outros pontos que são o talento ou tempo, nós não temos como inventar mais horas em cima das 24 horas diárias que já existem. Sendo assim é tentarmos nos organizar melhor, porque com o passar do tempo cada vez estamos mais em projetos rigorosos e mais exigentes onde é necessário mais coisas e não tem como se não continuarmos a lutar para encontrar maneiras de conseguir esses recursos que mais falta fazem. O financeiro é o segundo mais difícil, mas que é necessário para poder produzir-se qualquer coisa. É outro que temos estado a desenvolver através da qualidade dos produtos que temos vindo a lançar tem-nos facilitado nesse sentido. Várias pessoas com quem nós já tivemos conversas e reuniões gostaram muito dos nossos projetos, é somente questão de encontrar o melhor equilíbrio e é preciso ter paciência e não só querer avançar, não só querer fazer tudo. Ou seja, uma vez que já começaste e já conseguiste estudar um pouco é preciso ter essa paciência, dedicação de tentar delimitar o caminho para aquilo que realmente se quer.

HS - É isso que o Filipe disse, eu acho que temos vários desafios, um deles são mesmos os fundos, isso é o principal porque sem dinheiro não se faz nada. Mas nós encontramos caminhos honestos, caminhos viáveis para poder realizar os projectos. Somos duas pessoas só e com muito esforço que fazemos conseguimos superar com o objectivo de simplesmente concluir os projectos. Mas precisamos de mais apoio da comunidade, temos mas precisamos de mais, nós somos poucos a fazer filmes. Eu entendo como a nossa comunidade é, vai vendo coisas novas e dão o seu apoio, mas é importante que apoiemos o audiovisual, são filmes nossos com as nossas histórias e é bonito quando a gente vê porque estamos muito distantes do nosso continente e quando alguém faz um filme sobre o nosso povo é um desafio, mas temos que aplaudir. E de resto desafios que vão aparecendo, a gente vai lutar porque desde o momento em que entramos nesta caminhada já sabíamos que iria haver muitos picos. São esses obstáculos que nos tornam mais maduros, fazendo-nos agir com sabedoria.


FA - É isso família, Santano Productions na casa.


HS - Estamos juntos familia.

 Fotografia e Entrevista por: Nani Moreira 
 2 de Setembro, 2023

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Entre esses artistas estavam Langston Hughes, JamesWeldon Johnson, Richard Wright e Claude McKay, que o poeta e ex-presidente senegalês Léopold Sédar Senghor considerava como o fundador espiritual da Negritude.Os fundadores do movimento (ou Les Trois Pères), Aimé Césaire, Senghor e Léon-Gontran Damas, conheceram-se enquanto estudavam em Paris em 1931 e uniram-se, publicando o primeiro jornal dedicado à Negritude, L'Étudiant noir (O ​​Estudante Negro), em1934. A Negritude foi o movimento da consciência negra, numa afirmação política e cultural.A recuperação da cultura e da história negra; onde quer que a diáspora negra estivesse situada no mundo, os seus apoiantes tinham uma identidade unificadora sob a noção particular de ancestralidade africana.Césaire cunhou o termo “Negritude” no seu “Cahier d'un retour au pays natal”(Caderno de um retorno à terra natal, 1939) e explicava, nas suas palavras, “O simples reconhecimento do fato de que alguém é negro, a aceitação desse fato e de nosso destino como negros, de nossa história e cultura”. Mesmo no seu início, a Negritude foi verdadeiramente um movimento internacional - inspirando-se no florescimento da cultura afro-americana, provocada pelo Renascimento do Harlem, que encontrou um lar no cânoneda literatura francesa.Embora o “Cahier d'un retour au pays natal” de Césaire seja certamente considerado um texto essencial para o movimento, a coleção de poesia de estreia de Damas, Pigments(1937), é até hoje vista e chamada de "manifesto do movimento". Nele, Damas argumenta contra a escravatura, a segregação, a assimilação colonial e a repressão ou rejeição do eu racial e cultural.

Ao contrário dos outros membros do Trois Pères, Senghor defendia a assimilação,
mas uma forma de assimilação que permitisse “uma métissage cultural”, ou miscigenação

cultural de preto e branco. Enquanto Senghor também promoveu uma redescoberta e
celebração de crenças e valores africanos e o estabelecimento de um autêntico eu negro,
ele também imaginou uma nova consciência racial na qual uma dupla cultura negra e
branca poderia funcionar em direção a um lugar de iluminação mútua, um “rendez du
donner et recevoir” (“dar e receber”). Testemunhando-se assim, o impacto político devido às
relações futuras entre França e Senegal.
Os simpatizantes do movimento incluíam o filósofo francês Jean-Paul Sartre e
Jacques Roumain, fundador do partido comunista haitiano. A negritude também teve os
seus detratores, alguns dos quais acusavam o movimento de promover uma forma de
exotismo ou fetichização negra, ou de criar outra vertente racista. Sendo, a maior critica
uma analise e discordia em relacao aos seus principios individuais. Em resposta, Senghor
explicava que Negritude “não é racismo nem autonegação. No entanto, não é apenas
afirmação; é o enraizamento em si mesmo e a autoafirmação: a confirmação do próprio
ser”.

Movimento

Negritude

Negritude foi um movimento literário e ideológico liderado por escritores e
intelectuais negros nas colónias francesas na África e nas Caraibas na década de 1930. O
movimento é marcado pela sua rejeição à colonização europeia e o seu papel na diáspora
africana, orgulho da “negritude” e dos valores e cultura tradicionais africanos, misturados
com uma corrente de ideais marxistas. Negritude nasceu duma experiência compartilhada
de discriminação e opressão e uma tentativa de dissipar estereótipos e criar uma nova
consciência negra.
O movimento inspirou-se no Renascimento de Harlem, que exibia um declínio na
sua adesão. O Renascimento de Harlem, que também foi chamado de “Novo Renascimento
Negro”, promoveu artistas e líderes negros que promoveram um sentimento de orgulho e
defesa na comunidade negra e simultaneamente, recusavam submeter-se a injustiças. Mas
quando os dias de glória do Renascimento do Harlem chegaram ao fim, muitos intelectuais
afro-americanos da época mudaram-se para a França, à procura dum refúgio contra o
racismo e a segregação na América.

 

Contudo, o movimento encontraria um grande crítico no poeta e dramaturgo nigeriano Wole Soyinka que acreditava que o orgulho deliberado e franco da sua colocava os negros continuamente na defensiva, dizendo notavelmente: “Um tigre não proclama sua condição de tigre; ele emerge sobre sua presa.” Ironicamente, Soyinka era conhecido pelo seu “amor” ao inglês e a desvalorização da sua lingua nativa.Consequentemente, Frantz Fanon, de alguma maneira concordava, apoiando que a consciência negra havia sentido as dores da consciência europeia; O nativismo não poderia ser devolvido, o nacionalismo cultural e a identidade não eram suficientes, o humanidade universal e a aceitação teriam sempre que ser avaliados pelo Ocidente.

O movimento em si teve uma ampla gama de influências na arte, colonialismo antropologia, permanecendo um movimento influente durante o resto do século XX e até os dias de hoje. Como movimento, Negritude foi capaz de dar voz aqueles que foram submetidos à colonialidade no mundo moderno e o legado do sistema colonial. Além disso, deu a possibilidade e agência a indivíduos nas Caraíbas e no resto do mundo, restaurando a humanidade pela cultura a um povo marginalizado de que a sociedade rejeitava no seu“clamor”.

 Por: Jamila Pereira | @millie_gp
Data: 20
 de Maio, 202
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Berço Matriarcal e Animista

O matriarcado não representa o triunfo absoluto e cinico da mulher sobre o homem, consiste num dualismo harmonioso, uma associação aceite pelos dois sexos para melhor construir uma sociedade sedentária na qual cada cada um próspera plenamente, entregando-se à atividade que está em maior conformidade com a sua natureza fisiológica.

Um regime matriarcal, longe de ser imposto ao homem por circunstâncias independentes da sua vontade, foi criado, é aceite e defendido por ele “ Cheick anta Diop.

(Unidade cultural africana , pág: 55, na versão em inglês, pág: 108.

Matriarchy is not an absolute and cynical triumph of woman over man, it is a harmonous dualism, an assocaition accepted by both sexes, the better to built a sedentary society where each and everyone could  fully develop by following the activity best suited to his physiological nature. A matriarchal regime, far from being imposed on man by circumtances independent of his will, is accepted and defended by him. Pag. 108, The cultural Unity of Black Africa.)


 

 A importância do tio materno

 Sistema Matriarcal 

No sistema matriarcal no seu estado puro, não se herda do pai, mas sim, do tio materno e desposa-se a sua filha, a fim de que está não seja totalmente desfavorecida. Todos os direitos políticos são transmitidos pela mãe, excetuando  o recurso a usurpação, nenhum príncipe pode herdar um trono se a sua  mãe não for uma princesa. A importância do tio materno, reside no facto de que este que auxilia a sua irmã, que a representa em todo o lado e , caso seja necessário, toma a sua defesa. Este papel de assistência a mulher , inicialmente, não cabia  ao marido considerado antes como um estrangeiro aos olhos da família da mulher.

 

(cheick anta Diop, pág 18, unidade cultural africana .

Southern Cradle and Matriarchy

In the matriarchal system, in its pure form, a child does not inherit from his father, he inherits from his maternal uncle and is married  to his uncle's daughter, so that the latter is not completely disinherited. All political rights are transmitted by the mother, and except for the possibility of usurpation of power no prince can suceed to the throne if his mother is not a princess. The importance of the uncle on the mother's side lies in the fact that it is he who aids his sister, is her representative everywhere and, if need be, takes her defence. This role of aid to the woman did not originally fall to the husband, who was considered to be a stranger to his wife 's family. Pag;29, Cultural Unity of Black Africa.)

Sociedades Matriarcais

Na África negra, acredita-se em quase todo lado, que a criança deve muito mais, biologicamente falando, a sua mãe do que ao seu pai. A herança biológica do lado materno é mais sólida, mais importante do que a herança do lado paterno.

por conseguinte, é-se aquilo que a sua mãe é, é-se apenas metade daquilo que o pai é.

Sociedade matriarcal

A facilidade de divórcio nos casamentos do berço matriarcal não pode, objetivamente ser considerada como um sinal inferioridade, e de anterioridade ao ponto de distinguir uma família dita sindiasmica, arcaica, de outra dita monogâmica, na qual o divórcio é quase impossível. A espontaneidade da separação não deve ser encarado enquanto reveladora de costumes dissolutos, mas como o índice grau de desenvolvimento que uma sociedade concede a todos os seus cidadãos, sem distinção de gênero.

A mulher africana mesmo depois do casamento, conserva toda a sua personalidade e os seus direitos, está continua a usar o nome família. pag;23, Unidade Cultural Africana.

Sistema Matriarcal ( religião tradicional) versus a islamização da áfrica ocidental

A islamização da África Ocidental foi iniciada com o movimento Almoravida, no século X ( 10). É possível notar-se que este introduziu uma espécie demarcação na evolução da consciência religiosa, em primeiro lugar dos príncipes, por consequência, mais tarde, nos povos.

A religião tradicional desvaneceu gradualmente sob influência islâmica, bem como os costumes e as tradições.

Foi deste modo que o regime regime patrilinear se substituiu, parcial

e progressivamente, ao regime matrilinear desde do século X. Assim, compreendem -se as suas causas externas que originaram a mudança.pág: 33, Unidade culrutal africana, Chieck anta Diop

SISTEMA MATRIARCAL ( RELIGIAO TRADICIONAL ) VERSUS INFLUENCIAS RELEGIOSAS EXTERNAS:

Na áfrica ocidental a adopção do sobrenome do pai pelas crianças parece derivar desta mesma influência árabe. De facto , acabamos de tomar conhecimto com, Ibn Batouta, que em 1253, às crianças eram nomeadas de acordo com o tio materno, ou seja o irmão da mãe.

Portanto, o descendente adoptava o sobrenome de um homem, mas o regime era puramente matrilinear, só o deixou de ser a partir do momento que o pai substitui o tio , de acordo com a prática islâmica.

É importante salientar que, a partir da mesma época, a destribalização era um facto concretizado na África ocidental , o mesmo é demonstrado através da possibilidade que o indivíduo possui de adoptar um sobrenome próprio, de família , e já não relativo ao clã.

Nas regiões não destribalizadas do continente, os indivíduos têm apenas um nome. Quando são questionados  acerca do seu nome de família, estes respondem que pertencem a um determinado clã totêmico, cuja designação só pode ser adotada coletivamente. Só quando os membros do clã se despersam é que podem conservar individualmente, como lembrança da sua comunidade primitiva, o nome do clã que se tornaa no seu sobrenome de família.

No entanto, é necessário sublinhar um modo particular de nomear os descendentes, que parece resultar de uma concepção dualista da vida social. Ao nome do rapaz, acrescenta-se o da mãe, e ao nome da rapariga, o do pai. Por exemplo, Cheikh Fatma designa o filho de Fatma, Magatte Massamba - Sassoum é filha de Massamba-Sassoum. Certamente que isto não provém, de modo algum, de uma influência árabe. pág 33, Unidade Cultural Africana, Cheick Anta Diop.

 Por: Gustavo Barbosa| @rashidbarbosa
Data: 30
 de Março, 202
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Sara 'Saartjie' Baartman nasceu em 1789 no rio Gamtoos, no que hoje é conhecido como Cabo Oriental, na África do Sul. Ela pertencia ao grupo de criadores de gado dos Khoikhoi. Sara cresceu numa fazenda colonial com a sua família. No entanto, a mãe dela faleceu quando ela tinha dois anos e seu pai, que era vaqueiro, faleceu quando ela atingiu a adolescência. Sara casou-se com um homem Khoikhoi que era baterista e juntos tiveram um filho que morreu logo após ter nascido.

Devido à expansão colonial, os holandeses entraram em conflito com os Khoikhoi. Como resultado, as pessoas foram gradualmente absorvidas pelo sistema de escravatura. Quando ela tinha dezesseis anos, o seu noivo foi assassinado por colonos holandeses. Logo depois, ela foi vendida como escrava a um comerciante chamado Pieter Willem Cezar, que a levou para a Cidade do Cabo, onde ela se tornou empregada doméstica do seu irmão. Foi nessa época que ela recebeu o nome de 'Saartjie', um diminutivo holandês para Sara.

Em 29 de outubro de 1810, Sara “supostamente” assinou um contrato com um cirurgião de navios inglês chamado William Dunlop, que também era amigo de Cézar e do seu irmão Hendrik. Aparentemente, os termos do seu “contrato” incluíam que ela viajaria com Hendrik Cezar e Dunlop para a Inglaterra e a Irlanda para fins de trabalho como empregada doméstica e ser exibida como entretenimento. Ela receberia uma parte dos lucros das suas exposições e teria permissão para retornar à África do Sul após cinco anos. No entanto, duas razões fazem com que a sua assinatura pareça duvidosa. A primeira é que ela era analfabeta e vinha de uma tradição cultural que não escrevia nem mantinha registros. Em segundo lugar, a família Cézar estava com problemas financeiros e suspeita-se que usaram Sara para fins lucrativos através de exploração laboral.

Devido às suas nádegas volumosas (designadas hoje como Esteatopigia) e a sua melanina, Sara Baartman tornou-se um objeto de fascínio dos europeus coloniais que presumiam que eram racialmente superiores. Dunlop queria que Sara viesse para Londres e se tornasse uma raridade para o mundo das exibições. Ela foi levada para Londres, onde foi exposta num prédio em Piccadilly. Uma rua repleta de diversas "abominações" naturais e rotulada pelas “maiores deformidades do mundo”. Ingleses e inglesas pagaram para ver o corpo seminu de Sara, exposto numa gaiola de cerca de um metro e meio de altura. Eventualmente, ela tornou-se uma atração para pessoas de várias partes da Europa.

Durante o seu tempo com os irmãos Cezar, a campanha contra a escravatura na Grã-Bretanha estava em pleno andamento e, como resultado, o tratamento dado a Baartman foi questionado por muitos. Os seus “empregadores” foram levados a julgamento, mas não enfrentaram consequências apropriadas. Eles apresentaram um documento que teria sido assinado por Sara Baartman e o seu próprio testemunho, afirmando que ela não estava a ser maltratada. O seu 'contrato' foi, no entanto, alterado e ela passou a ter direito a “melhores condições de trabalho”, uma maior participação nos lucros e um melhor vestuário.

Depois de quatro anos em Londres, em setembro de 1814, ela foi transportada da Inglaterra para a França e, ao chegar, Hendrik Cezar vendeu-a para Reaux, um homem que exibia animais. Ele exibiu-a em Paris e recolheu os benefícios financeiros angariados com o fascínio do público pelo corpo de Sara. Ele começou a exibi-la numa gaiola ao lado de um bebê rinoceronte. O seu “treinador” obrigava a sentar-se ou a ficar de pé da mesma forma que os animais de circo são esperados. Às vezes, Baartman era exibida quase nua, vestindo pouco mais do que uma tanga bege, e ela só tinha permissão para isso devido à sua insistência em cobrir o que era culturalmente sagrado. Pouco depois, ela foi apelidada de "Vênus Hottentot". Ademais, Reaux também fazia questão que Sara se prostitui-se e s sua constante exibição atraiu a atenção de George Cuvier, um pseudo-cientista e naturalista.

Ele perguntou a Reaux se ele autorizava que Sara fosse estudada como um espécime científico, com o que Reaux concordou. A partir de março de 1815, Sara foi estudada por anatomistas, zoólogos e fisiologistas franceses. Cuvier concluiu que ela era um elo entre animais e humanos. Assim, Sara foi usada para ajudar a enfatizar e fortalecer o estereótipo de que os africanos eram excessivamente sexuais e uma raça inferior. Além disso, este evento marcou o exemplo primordial de hipersexualização, indesejável e comodificação da mulher negra que muitos teóricos investigam até hoje e que predomina tanto como na sociedade Ocidental como nas nossas redes sociais.

Sara Baartman morreu em 1816 aos 26 anos. Não se sabe ao certo se ela morreu de alcoolismo, sífilis ou pneumonia. Após a sua morte, Cuvier obteve os seus restos mortais através da polícia local e dissecou o seu corpo. Ele fez um molde de gesso do corpo, conservou o cérebro e órgãos genitais, colocando-os em frascos que foram expostos no Musée de l'Homme (Museu do Homem) até 1974. A história de Sara Baartman ressurgiu em 1981, quando Stephen Jay Gould, um paleontólogo, escreveu sobre a história no seu livro, The Mismeasure of Man, onde criticou a ciência racial.

Após a vitória do Congresso Nacional Africano (ANC) nas eleições sul-africanas, o presidente Nelson Mandela solicitou ao governo francês que devolvesse os restos mortais de Sara Baartman para que ela pudesse descansar. Porém, o processo levou oito anos, pois os franceses tiveram que redigir um projeto de lei, cuidadosamente redigido, que não permitiria que outros países reivindicassem “tesouros” pilhados pelos franceses. Finalmente, no dia 6 de março de 2002, Sara Baartman foi levada de volta para casa, onde foi enterrada. Em 9 de agosto de 2002, Dia da Mulher, feriado na África do Sul, Sara foi enterrada em Hankey, na província de Eastern Cape.

 Por: Jamila Pereira | @millie_gp
Data: 13
 de Fevereiro, 202
3

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Portugal estabeleceu-se como um “estado civilizador” cuja missão era purificar e civilizar os domínios habitados no ultramar e suas populações indígenas que aparentemente careciavam moralidade e humanidade. Ainda assim, na Europa, Portugal era “vergonhosamente” reconhecido e escrutinado pelo seu esquecimento dos conceitos eugênicos ocidentais, o seu papel na miscigenação bem como tambem o crescimento da descendência mestiça na metrópole - todas consequências da expansão colonial. Seguindo o raciocínio de sociólogos como o brasileiro Gilberto Freyre, Portugal foi um caso “excepcional” como entidade colonial. Devido à mistura interracial, Freyre afirmou que Portugal tinha a capacidade de desenvolver novas civilizações nas suas colônias; assim, essa união dava-lhes a vantagem de se misturarem e desmantelarem as percepções dum imperialista implacável. Além disso, também reforçou a noção de que o seu “Europeísmo” foi de alguma forma diluído pela ancestralidade judaica e árabe, explicando assim o seu talento ao “confraternizar e socializar melhor” com os seus territórios ultramarinos, em comparação com outros estados europeus. Esta teoria social foi então rotulada de luso-tropicalismo. Porém, foi uma teoria rejeitada pelo Estado, que não pretendia associar-se dessa forma aos seus domínios subordinados.

Assim, após a Segunda Guerra Mundial, quando surgiu a necessidade de justificar e legitimar a natureza colonial e imperial da nação, ela já existia. À medida que nações não europeias lutavam pela independência e os europeus do Norte pressionavam Portugal a deixar as suas colônias, o poder de teorias sociais como o luso-tropicalismo, agora era considerado pela ditadura de Salazar e fortemente empurrado ao público. O luso-tropicalismo foi então abraçado como uma técnica colonial para disfarçar o passado impiedoso e sangrento de Portugal como uma estrutura de integração pura e sensata, bem como uma forma de democracia.

Daí o aparecimento de outros teóricos como Jorge Dias, umantropólogo Português, que reforçou o luso-tropicalismo ao defini-lo como o principal exemplo da atitude humana, solidária e amorosa Portuguesa para com as colónias e a sua natureza tropical, onde o coração de alguém e o cristianismo eram tudo o que importava. Ele também argumentou que a expansão colonial era apenas uma questão de explorar horizontes marítimos, não conquistá-los. Consequentemente, a capacidade de “adaptação” e “assimilação” a diferentes climas, culturas e povos também foi vista como um argumento convincente para manter os territórios dominados. 

Segundo Dias, a expansão colonial Portuguesa foi um símbolo da necessidade genética de aventura masculina, bem como uma forma de explorar o seu “desejo” por mulheres de outras raças, algo que herdaram da sua mistura ancestral. Inevitavelmente, esta noção de afecto e benevolência Portuguesa para com as populações não brancas foi plenamente adoptada por Salazar, que exigia uma base forte de colonialidade, na sequência do aparecimento dos movimentos anticoloniais.

Salazar então revogou o ato colonial e reestruturou as políticas, de modo que as colônias deixaram de ser chamadas como tal; rebatizou-as de províncias ultramarinas - extensão indissociável da nação Portuguesa ultramarina, onde todos eram iguais. Apesar disso, a atitude do Estado não evoluiu com a sua nova retórica de igualdade. Do extenso esgotamento dos recursos naturais através de trabalho forçado às disparidades socioeconômicas envolvendo educação, regras de assimilação e acesso precário à saúde básica, o restante dos habitantes Portugueses nas colônias garantiu que a igualdade não passasse de um conto mítico. Deu-se uma tremenda romantização e um branqueamento de uma história racializada que não era nada além de brutal e desviante, enquanto fortalecia os sistemas econômicos, políticos e culturais da hegemonia branca.

 

Portugal foi o último Estado europeu a “libertar” as suas colónias e, mesmo assim, derramou uma quantidade de sangue que ficará para sempre na memória e gravada em muitos corações. Portanto, embora as antigas colônias sejam todas independentes agora, a chamada “missão civilizadora” foi um fracasso total, pois muitas destas nações ainda se encontram a reconstruir as suas terras, enquanto tentam implementar um senso de democracia. Hoje, o legado do luso-tropicalismo e a expansão colonial só podem explicar a disfuncionalidade, o trauma e a falta de responsabilização. E sua rejeição é um reflexo dos Heróis do Mar e suas ações animalescas.

Além disso, a história de racismo e colonialidade de Portugal é um exemplo de como as nações ocidentais branqueiam os fatos enquanto pedincham palmadinhas nas costas pelas suas “missões civilizadoras”. Enquanto isso, agentes do colonialismo, como Freyre e Dias, criaram uma narrativa de igualdade entre o colonizador e o colonizado. O luso-tropicalismo é uma clara ilustração disso, pois destaca a busca de renomear das relações entre Portugal e suas antigas colônias. E, infelizmente, essas alegações duram até hoje, quando vemos os Portugueses negarem os seus atos bárbaros,e chamando-os de trocas respeitosas de cultura e afeto entre comunidades. ex. Simbolos coloniais como o Padrao dos Descobrimentos e a Expo ‘98.

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Denominar uma história imperialista como encontros cortês e amigáveis, negligencia e impede a possibilidade do povo pensar criticamente ou mesmo discutir o efeito duradouro do colonialismo e suas migalhas, que foram deixadas em todo o mundo. Daí o surgimento de partidos como o Chega que devoram ideologias luso-tropicalistas e alimentam-se duma noção racista e desinformada de que os indígenas poderiam de alguma forma ter uma chance de prosperar, mas não aproveitaram as oportunidades civilizadoras. Descolonizar o currículo em toda a CPLP e dar espaço para estas conversas difíceis é, sem dúvida, um passo coletivo para desmantelar o racismo sistêmico e a ideia de que descobertas poderiam ter acontecido mesmo quando corações destemidos já batiam lá.

 Por: Jamila Pereira | @millie_gp
Data:
2 de Fevereiro, 202
3

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ÁfricaUm continente com 54 países, mais de 2000 línguas e cerca de 3000 grupos étnicos diferentes. Um continente com inúmeras práticas indígenas religiosas para além das religiões Abraâmicas praticadas por milhares de Africanos. Cada país com uma história distinta e especifica, e com práticas culturais diferentes. 

 

Muitas vezes ouvimos falar de uma cultura Africana, mas o que é na realidade cultura Africana, quando temos países como a Nigéria por exemplo, que somente conta com mais de 500 línguas e 250 grupos étnicos?

O aclamado escritor e académico Queniano Ngũgĩ wa Thiong’o afirma que a língua é um canal pela qual a cultura e identidade veicula valores. Se assim for, será que podemos dizer que um continente com mais de 2000 línguas e culturas, partilha uma única cultura?

 

Cultura tem tantas definições como o número de académicos interessados no fenómeno. 

No entanto, geralmente cultura é entendida como o resultado total das peculiaridades partilhadas por uma sociedade ou grupo social. Estas peculiaridades incluem conjuntos de traços distintivos, espirituais e materiais, intelectuais e afetivos. Ela engloba, além das artes e das letras, os modos de vida, de ser e estar, os sistemas de valores, as tradições, as crenças e por aí além. 

África é sim um continente maravilhosamente rico em diversidade. Todavia, cultura Africana existe porque apesar das várias culturas referentes a grupos específicos, os Africanos partilham uma longa e história semelhante , e fortes traços culturais, especialmente quando analisamos as crenças e valores que os distinguem de outras sociedades no mundo. 

Cultura Africana é então, a soma total de atitudes, artes, crenças, códigos morais e práticas partilhadas que caracterizam os Africanos. Pode e deve ser interpretada como um reservatório contínuo e cumulativo contendo elementos materiais e não-materiais que são socialmente transmitidos de uma geração em geração. Cultura Africana, refere-se, portanto, a toda a herança Africana. É baseado nesta ideia, que é possível termos ideologias e movimentos como Pan-Africanismo, Afrocentrismo, Negritude, entre outras.

As múltiplas nuances e diferenças entre as várias nações e regiões de África não opõem nem negam as similaridades que existem entre os Africanos tanto no continente como na diáspora.

Enquanto África e Africanos existirem, cultura Africana continuará a existir também.

Por: Jéssica Silva @__gorjessx
Data: 3 de Janeiro 2023

Nascido em Bissau em Dezembro de 1946, José Carlos Schwarz foi o fundador da música moderna Guineense, o Gumbe. O músico, compositor e poeta é considerado uma lenda decolonial. A sua voz e a sua guitarra denunciaram as dores e o sofrimento da população antes e depois da independência. O seu trabalho demonstra a resiliência, o quotidiano e o intuito de sobrevivência do povo Guineense. 

Contra os desejos do pai e com o suporte do amigo Duko Castro Fernandes, da banda Apaches, juntou-se à luta através da música e literatura. Daí a diante, a sua jornada militante deu asas à “Roda Llivre”, uma banda que tencionava realçar a história, a cultura e o desenvolvimento da Guiné. Obras como "Pérolas Negras” e “Sweet Fenda”, são hoje marcos na história cultural e musical Guineense. 

 

Juntamente com Mamadou Bá, Aliu Bari, Samake e Ernesto Dabo, criaram os Cobiana Djazz, o grupo mais influencial na história Guineense. Com tempo, os jovens artistas dominavam instrumentos e o crioulo, para que pudessem compartilhar a sua mensagem e, simultaneamente, estabelecer uma ligação íntima com a população. José levantou o Gumbe das sombras, poliu-o e deu-lhe o estatuto de primeiro gênero musical Guineense. A sua intenção era mobilizar a população e realçar o poder da lingua quotidiana. Exprimindo-se em crioulo, o seu impacto seria maior que qualquer outro acto de resistência. Num instante, Cobiana Djazz chegou ao estrelato como as vozes do povo, numa altura em que a esperança era uma miragem. Canções como “No Kolonia” e “Mindjeres di Panu Pretu” deram a todos uma sensação de união, camaradagem e revolução, especialmente as mães e mulheres guineenses. 

 

 

                                        Por: Jamila Pereira | @millie_gp
25 de Setembro, 2022

Nascido em Bissau em Dezembro de 1946, José Carlos Schwarz foi o fundador da música moderna Guineense, o Gumbe. O músico, compositor e poeta é considerado uma lenda decolonial. A sua voz e a sua guitarra denunciaram as dores e o sofrimento da população antes e depois da independência. O seu trabalho demonstra a resiliência, o quotidiano e o intuito de sobrevivência do povo Guineense. 

Contra os desejos do pai e com o suporte do amigo Duko Castro Fernandes, da banda Apaches, juntou-se à luta através da música e literatura. Daí a diante, a sua jornada militante deu asas à “Roda Llivre”, uma banda que tencionava realçar a história, a cultura e o desenvolvimento da Guiné. Obras como "Pérolas Negras” e “Sweet Fenda”, são hoje marcos na história cultural e musical Guineense. 

Juntamente com Mamadou Bá, Aliu Bari, Samake e Ernesto Dabo, criaram os Cobiana Djazz, o grupo mais influente na história Guineense. Com tempo, os jovens artistas dominavam instrumentos e o crioulo, para que pudessem compartilhar a sua mensagem e, simultaneamente, estabelecer uma ligação íntima com a população. José levantou o Gumbe das sombras, poliu-o e deu-lhe o estatuto de primeiro gênero musical Guineense. A sua intenção era mobilizar a população e realçar o poder da lingua quotidiana. Exprimindo-se em crioulo, o seu impacto seria maior que qualquer outro acto de resistência. Num instante, Cobiana Djazz chegou ao estrelato como as vozes do povo, numa altura em que a esperança era uma miragem. Canções como “No Kolonia” e “Mindjeres di Panu Pretu” deram a todos uma sensação de união, camaradagem e revolução, especialmente as mães e mulheres guineenses. 

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 GUINÉ-BISSAU 1446-1973
“Se alguém invadisse a tua casa e destruísse tudo aquilo que construiste, se alterasse radicalmente o teu modo de vida, se te proibisse de falares a tua língua, se te fizesse teres vergonha da tua cultura e das tuas crenças, se te obrigasse a seres escravo dentro do teu próprio espaço, se te limitasse a teres acesso aos recursos naturais do teu próprio solo, se mudasse completamente a arquitetura do teu lar em que só podes estar na casa de banho e não podes sair sem a sua autorização, se criasse fronteiras exclusivamente benéficas para si e para os seus aliados, se criasse instituições em que tu não podes usufruir a não ser que aceites despir toda a humanidade que existe em ti (…)
Isto tudo dentro da tua casa, quanto tempo irias aguentar?“

 


“Nha orgulho ta bim di história di continente Africano

Nha guinendadi ta bim di nha antepassados

Grandeza sta na adn di tudo guinti di pele escura

Primero passo pa progresso ta kunssa na leitura

Amílcar Cabral falaba cuma anós ki motivo di si luta

Aós i nó biás di planta árvores pa futuro gerasson tene fruta.”



                                          Por: Saliu Embaló Baldé| @saliu.embalo.balde
                                                           
 26  de Outubro, 2022


 

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